sábado, dezembro 15, 2007

Das regras inversas do amor: no 8


Pérolas



Pérolas são o produto da dor, o resultado da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou um grão de areia.

A parte interna da concha de uma ostra é feita de uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola é formada.

Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

Você já se sentiu ferido por dentro? Então produza uma pérola! Cubra as mágoas e as rejeições com camadas e camadas de amor próprio. Produza, com a parte mais brilhante de si mesmo, algo tão bonito como uma pérola e devolva ao mundo beleza ao invés de dor e de ressentimento!

(autor desconhecido)























segunda-feira, dezembro 10, 2007

Das regras inversas do amor: no 7

Oração da mãe à sua filha

Querida filha,

obrigada por ter vindo até mim, porque através de você pude conhecer o milagre da vida, a força criativa do que é sublime e divino. Mas, sobretudo, obrigada, filha, por ter mostrado a mim, coisas que eu não conhecía de mim mesma. Estranhamente é você quem me educa, quem me ensina a viver. Perdoe-me minha prepotência de adulto, que pensa que sabe e pode tudo. Quanto sofrimento ela me tem causado! Tanto quanto o meu amor exagerado. Perdoe-me, filha, por vezes a minha falta de paciência, a minha incompreensão, a minha raiva. Porque se grito, se dou bronca, se ponho de castigo, ou ainda, se chego mesmo inconfessavelmente a arrepender-me de tê-la tido, se, esgotada, tenho vontade de fugir, - entende, filha -, é porque não posso suportar o peso das minhas próprias frustrações ao ver que fracasso em dar a você tudo o que o meu amor desmedido deseja que você tenha. Tão insuportável é para mim sentir que não posso evitar que você sofra as mínimas aflições que quisera protegê-la de tudo, até mesmo da vida, para que você pudesse estar sempre como antes, reclusa à escuridão do útero, quando experimentava apenas os atos do meu corpo e da minha imaginação. Você é o fruto do desejo e o desejo não aceita limites nem quer viver à luz da realidade. Por isso, filha, perdoe-me simplesmente por ter desejado tanto e por depositar em você tanto amor. Um amor que lhe quer tanto bem que por isso deposita em você mil e uma expectativas, de que tenha só o que é de melhor e maior. Mas sem nem saber se você quer tudo isso, sofro só de pensar em cada pequeno fracasso seu. Mas, entenda, não é que a queira sempre vencedora, como um troféu que usasse para exibir-me. Não, filha, é que sou demasiado fraca e não suporto o peso das minhas frustrações ao me ver impotente para fazer existir tudo o que meu amor infinito gostaria. Perdoe-me, filha, as minhas fraquezas - assim como tenho perdoado as de meus pais. Perdoe-me por ser tão egoísta em querê-la só para mim, em querê-la sem fracassos e sem sofrimentos só para que eu mesma não me sinta impotente e pequenina. É que, ao lhe dar a vida, tive a ilusão de que era quase como um deus. Perdoe-me minha prepotência e as minhas inúmeras limitações.

Que Deus a proteja,

de mim, dos outros, das armadilhas do destino,

e que dê a você forças para superar também as suas fraquezas e limitações,

Amém.



OBS: escrito quando a Clarissa, minha primeira filha, era ainda uma bebé.