quinta-feira, dezembro 29, 2005

A IDADE DE SER FELIZ, de Mario Quintana


Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo, nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida, à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.


Tempo de entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim"
Grande é o exemplo do personagem
de Al Pacino (na foto aí de cima)
no maravilhoso filme Perfume de mulher!!!

Que possamos todos investir no PRESENTE e que tenhamos a coragem de dar um NOVO fim a nossas vidas e simplesmente sermos FELIZES em 2006!!!

segunda-feira, dezembro 12, 2005

EU, TU, NÓS - para pensarmos no quanto de nós é sempre dos outros





O OUTRO DE NÓS

Há dias em que o amor transpira
Há outros em que inspira
Mas há dias em que nada faz entrar ou sair
E aí, então, só a amizade com seus grandes braços de ninho pode,
acariciando-nos a alma solitária, abrir pequenas fendas, ser por nós
o que mais nos pesa ser e também o que nunca conseguimos.






FRAGMENTO do poema PIEDRA DE SOL, do poeta mexicano Octavio Paz,

"nunca la vida es nuestra, es de los otros, la vida no es de nadie, todos somos la vida - pan de sol para los otros, los otros todos que somos -, soy otro cuando soy, los actos míos son más míos si son también de todos, para que pueda ser he de ser otro, salir de mí, buscarme entre los otros, los otros que no son si no existo, los otros que me dan plena existencia, no soy, no hay yo, siempre somos nosotros..."

(traduçao: "nunca a vida é nossa, é dos outros, a vida não é de ninguém, todos somos a vida - pão de sol para os outros, os outros todos que somos -, sou outro quando sou, os meus atos são mais meus se são também de todos, para que possa ser, hei de ser outro, sair de mim, buscar-me entre os outros, os outros que não são se eu não existo, os outros que me dão plena existência, não sou, não há eu, sempre somos nós...")




AMISTAD

El amor es el amor
con sus egoísmos castos
con su posesión sublime.

Pero la amistad
es el mejor de los amores
- más que el amor de las parejas
de los padres, hijos y hermanos.
es el amor sin factura
sin derecho a cobrar
es dar por dar
en un momento de la vida
que casi siempre se olvida
abrazar la soledad
de otro ser humano
y sentirle lo humano en el corazón festejar.

Amistad: alegría que viene del otro.

(tradução: "o amor é o amor, com seus egoísmos castos, com sua possessão sublime. Mas a amizade é o melhor dos amores - mais que o amor dos casais, dos pais, filhos e irmãos, é o amor sem fatura, sem direito a cobrar, é dar por dar, num momento da vida que quase sempre se esquece; abraçar a solidão de outro ser humano e sentir o que ele tem de humano festejar no seu coração. Amizade: alegria que vem do outro.")


sexta-feira, dezembro 09, 2005


Lá no campo, lá nas pequenas cidades, todo mundo tem mais tempo: para olhar a natureza, para pensar nos sentimentos, para olhar uns para os outros. Quando eu morava em Ibiúna, o vício da nossa pressa das cidades grandes, sempre ávida por resultados, chegava a fazer eu me irritar com a calma do pessoal. Aí, era preciso parar um pouco... e revisar tuuudo!

Esse é um texto cujo nome não sei. Todo escrito em dialeto caipira e que minha prima Isa de Mattos Taube - que é maravilhosa cantora - me deu a oportunidade de conhecer!

Cantá seja lá como for...

Se a dor for mais grande que o peito,

cantá bem mais forte que a dor.

Cantá com o mó da alegria

e também com o mó da tristeza.

É cantando que a natureza

insina os home a cantar.

Cantá sintindo saudade,

que deixa as marca de verga,

de arguém que os óio não vê

e o coração inda enxerga.

Cantá coiendo as coieita,

ou que nem bigorna no maio,

que o canto bom de escuitá,

é o som da manhã no trabaio.

Cantá como quem dinuncia

a pior injustiça da vida:

a fome e as panela vazia

nos lar que não tem mais comida.

Cantá nossa vida e a roça,

na quar germina a semente:

as que dão fruto na terra,

as que dão fruto na gente.

Cantá as cabocla com jeito,

com viola e catiguria.

E se elas cantá no seu peito,

num tem cantá que alivia.

Cantá com mó de despertá,

o amor que bate e consola:

com te amo dentro da gente

e um coração de viola.

Cantá com muitos amigo,

que a vida canta mior:

é em bando que os passarinho

cantando disperta o sor.

Cantá, cantá sempre mais,

de tarde, de noite e de dia.

Cantá, cantá...

que a paz carece de mais cantoria.

Cantá seja lá como for...

se a dor for mais grande que o peito,

cantá bem mais forte que a dor!

Para ouvir a gravação de Isa Taube - "Beira-mar" -, em que se recita este texto, visite os links a seguir: http://www.mpbnet.com.br/canto.brasileiro/isa.taube/letras/beira_mar.htm

http://www.mpbnet.com.br/canto.brasileiro/isa.taube/index.html

quarta-feira, dezembro 07, 2005



OCASO

Foi um crepúsculo repentino
E a vida fechou as janelas

Luz que desapareceu
em seu lugar
luzes artificiais
sois menores
nunca mais
aquele brilho
força vital
amor natural
energia que vem
sem que se tenha que pedir
que a cada manhã
nos nutre e protege do frio da solidão

quando você se foi mãe
um sol se apagou para sempre
e parte do meu ser
sei que jamais outra vez
poderá viver fora da sombra
pois a cada vez que o coração sente
repete-se o apagar desse crepúsculo.


(para lembrar de minha querida mãezinha, que era uma estrela e foi morar no céu num dia 7 de dezembro)

Uma homenagem a Manuel Bandeira!

Ah, se todos pudessem viver assim
tão intensa e apaixonadamente...
a vida...
que volúpia...


seria um caos,
evidentemente!


DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

domingo, dezembro 04, 2005

REFLEXO E REFLEXÕES


Às vezes achamos que para ter amigos, para ter um amor, ou seja, para gostar dos outros é preciso encontrar pessoas como nós mesmos, com os mesmos interesses, gostos, atividades, experiências semelhantes. Grande falácia: isso não é gostar dos outros, isso é gostar de si mesmo através dos outros. Porque quando não temos a certeza de gostar de nós mesmos – e isso acontece freqüentemente, devido a muitas e muitas das nossas inseguranças e dos medos – usamos os outros para gostar de nós. É uma maneira de se isolar do mundo – que tem uma diversidade de seres tão fascinante – e ficar vendo só a si mesmo, só o próprio reflexo.

Mas nada disso é essencial e na verdade, com o tempo, vemos que a falta do nosso amor próprio não pode depender dos outros como de um remédio, sem o qual ficamos como que doentes (esse é o caminho terrível do ciúme!). O essencial, essencial mesmo, é gostar de si mesmo para depois poder gostar do outro assim como ele é, em seu modo de ser tão próprio de si mesmo. Porque se podemos gostar de alguém diferente de nós mesmos, esse alguém pode saber que esse é um gostar do outro, não um “auto-admirar-se”, esse é um Amar. E pensando nisso, lembro do filme "Moça com brinco de pérola", no qual uma sociedade muuuito hierarquizada pode conter pessoas com a mesma sensibilidade, infelizmente situadas a distâncias intransponíveis. Ainda bem que hoje tudo é bem mais igualitário e democrático!

Essencial é gostar do outro em sua humanidade, em sua maneira de existir e de ver e sentir o mundo, em seu modo de irradiar vida, energia, luz, enfim, em seu modo também de amar. Temos de nos ater ao que é próprio do ser e não ao que é dado por tudo que é externo a ele; ater-se, por exemplo, à inteligência (não a posições sociais), ao humor com que se fala (não ao que se fala), ao temperamento etc. Porque se encontramos pessoas que sentem e amam como nós, seja lá o que façam ou de onde venham, sabemos que é no amor que as encontramos, lá no meio do caminho entre o dar e o receber, lá onde as palavras não dizem muito, mas o coração sente na mesma sintonia.

E aí me pergunto: por que há tanto preconceito, por que tão pouca compaixão? Por que as pessoas se isolam mais e mais nos seus minúsculos círculos sociais (cheios de gente igualzinha)? Por que inventam meios de manter a antiga hierarquização, a despeito de toda democracia? É porque vivemos numa sociedade cada vez mais narcisista em que se ama tão pouco os outros e se vive quase sempre para engrandecer a si mesmo (sucesso profissional, status social, beleza física!!), numa espécie de sutil competição que faz dos outros todos não alguém para se amar, mas inimigos para se vencer ou ameaças das quais se resguardar!