sábado, dezembro 16, 2006

Capítulo 1

As crianças de Brilhossol não conheciam o espetáculo da chuva, inexistente na cidade. Suas vidas se faziam no seco, no morno e aconchegante carinho dos raios do sol: esse prato dourado que dependuraram no meio do azul.
Conta tio Abelardo que ele é o olho de Deus a cuidar de todos aqui embaixo. Tio Abelardo, que mora no alto da Rua das Mangueiras, passa todo o dia, com exceção das horas do almoço e do jantar, sentado à soleira da porta de sua casa contando histórias, ou melhor, contando uma só e grande história que sempre se repete sem nunca ser igual. Memoráveis discussöes entre adultos houve na praça central sobre "de como foi que disse Seu Abelardo". Mas como "quem conta um conto aumenta um ponto", nunca se podia comprovar se fora tio Abelardo que modificara a história ou se o fizera a pessoa que a estava recontando. Era só um dos ouvintes protestar:
- Não foi assim que eu escutei o tio Abelardo contar não -,
e logo começavam as acusaçöes:
- Que vergonha, te pegaram numa mentira, heim? -,
e o outro logo se defendia:
- Que mentira que nada, se posso jurar por tudo que quiserem que estou contando a história tal qual ouvi.
A culpa era sempre daquele que recontava, pois tio Abelardo, a mais antiga personalidade de Brilhossol, seu habitante mais sábio, jamais poderia ser acusado de um falseamento, de uma mentira, por menor que fosse. O tempo, que baralha a memória, era fator também que contribuía aos enganos. Tio Abelardo contava histórias às crianças de Brilhossol, e desde o tempo da infância, muito do contado podia ter-se perdido na lembrança. O único adulto que se atrevia a acusar tio Abelardo de distorçöes nas histórias era Josias:
- Quando eu digo que esse tio Abelardo muda as histórias... -,
ao que imediatamente todos reagiam:
- Lá vem você de novo acusando o tio Abelardo, querendo insinuar más intençöes naquele que nos educou a todos com os seus ensinamentos. Você deveria se envergonhar!
Josias não se atrevia a ir além. Calava-se, mas continuava firme em suas idéias. Tinha para ele que tio Abelardo provavelmente sofria de um problema crônico de memóia. Não questionava o grande valor de seus ensinamentos, nem se atrevia a pensar que o homem mudasse as histórias por maldade, não, isso não podia ser. Afastava essa idéia sempre que ela lhe vinha à cabeça. Mas que o velho modificava as histórias, isso modificava mesmo. Mas como discutir não é um hábito que se deva cultivar em Brilhossol - principalmente se há crianças por perto -, Josias não insistia. Em Brilhossol não se abordava o tema das versöes da história de tio Abelardo na frente das crianças: Discussöes não eram exemplo para se dar a elas, além do que, podiam tirar-lhes o gosto das horas de distração e instrução junto ao velho sábio.
Mas onde está tio Abelardo, nesse dia de festa de Brilhossol? Está à porta de sua casa. Na frente dele, sentados em semicírculo, sentindo aquele calorzinho gostoso que o sol deixou no piso da calçada, estão as crianças escutando. Tio Abelardo conta um de seus episódios mais freqüentes: o da chegada do sol à cidade. Conta como tudo se iluminou quando o sol, por primeira vez, movido pela curiosidade, espichou alguns de seus raios para as bandas de Brilhossol.
A cidade, ou melhor, o lugar onde seria mais tarde a cidade, não passava então de um simples descampado pantanoso, húmido, sem vida e sem alegria, povoado apenas de sombras tristes e folhas mortas. O primeiro raio de sol, ao deslocar uma sombra, conversou com a terra escondida daquele lugar e lhe disse da muita alegria e do amor que tinha para lhe oferecer. E consolou-a da sua grande tristeza, fruto somente da solidão. A terra ainda argumentou, desiludida, que não acreditava mais que pudesse ainda ser feliz. Mas tudo não passava de resistência, essa resistência que se tem de tentar, por puro medo de não conseguir algo que se quer muito. E com o amor do sol, a vida voltou à terra e brotaram plantas frondosas e surgiram animais saltitantes e aves canoras. E o riso da terra voltou a ser visto cintilante por baixo da água do rio.
- Sim, porque saibam - dizia tio Abelardo - que aquele brilho que ofusca o olho nas águas do rio é o riso da terra que mostra seus dentes de ouro e diamantes. E assim nasceu essa Brilhossol maravilhosa que nós amamos tanto!
E tio Abelardo parou de falar neste ponto. Todo mundo em silêncio esperava que ele continuasse, mas ele não perecia querer prosseguir. Todos esperavam, menos Soluço, que olhava concentrado a casa da prefeitura do outro lado da rua. Com o ar pensativo e um dedo erguido a meio esticar, o menino, começou a dizer:
- E de onde veio todo o resto? Quem, então, construiu as casas e o parque, quem é que fez a prefeitura?
E tio Abelardo, como se já conhecesse ou previsse há muito tempo a pergunta, respondeu prontamente:
- Seu Lauzanio, filho. Seu Lauzanio, grande mestre de obras, e seu filho Lauzaninho, vieram para ver o riso da terra na beira do rio e ficaram.
Novamente o silêncio. Tio Abelardo fumava seu cigarrinho de palha e olhava para o chão. E aproveita Pimenta a oportunidade de falar - uma das coisas de que ela mais gosta de fazer - e diz:
- Seu Lauzanio foi em casa ontem pra levar uns tijolos pro meu pai.
- É, filha, eu também me lembro de Seu Lauzanio levando tijolos para meu pai. Todos se lembram - respondeu tio Abelardo.
Os Lauzanios ali sempre estiveram para cuidar de todas as obras e reformas de Brilhossol. A sucessão de Lauzanios era quase imperceptível para quem acompanhasse a substituição dos pais por seus filhos na mesma função de pedreiro. Todos os Lauzanios eram tão incrivelmente parecidos, idênticos mesmo, que as pessoas nunca sabiam se aquele com quem falavam era o pai, o filho ou o neto do último Lauzanio que havia feito alguma obra em sua casa. Mas ninguém se importava absolutamente com isso em Brilhossol. Todos os Lauzanios mereciam o mesmo respeito e carinho por parte da população da cidade. Afinal onde é que toda essa gente ia morar se não fossem os Lauzanios? E por toda parte sempre se ouvia, depois de qualquer consideração sobre uma casa:
- Grande Lauzanio! O que seria de nós sem ele?
E sempre que havia qualquer problema, um reboco caído aqui, uma rachadura ali, já se ouvia alguém lá dizer:
- Mande chamar o Lauzanio.
Mas chega de tanta conversa, porque é hora do almoço e a primeira mãe já desponta na janela da casa em frente com seu retumbante "tá na mesa!", chamando o estômago faminto da criançada. Segundos depois, outros "tá na mesa" vão surgindo como eco: na rua ao lado, no outro quarteirão, três quadras para frente, e assim por toda a cidade. A gurizada toda é unânime e responde com um impassível "tô indo" que leva no mínimo uns quinze minutos mais, quando então voltam a soar os ecos maternais.
Tio Abelardo a esta hora não estica conversa: vai logo dizendo a todos que não devem desobedecer às suas mães, e que alimentar-se é importantíssimo para crescer e ficar forte. Mas todos detestam deixar as histórias pela metade e pedem que conte "mais um pouquinho"...

domingo, dezembro 03, 2006

Uma história infanto-juvenil

Queridos amigos,

há alguns anos venho escrevendo uma história infanto-juvenil intitulada Na terra do céu. Passo a publicá-la, em entregas, nesse blog e gostaria de contar com os seus comentários para poder melhorá-la. Grande beijo e obrigada, desde já, pela sua leitura.



Na terra do céu


Introdução


Hoje é um dia muito muito especial. Dia de festa, de bandeirinhas penduradas entre os postes das ruas, de música nos autofalantes, de doces coloridos, de liberdade em voz alta. É o dia do aniversário de Brilhossol, uma cidade muito falada pelo mundo a fora, mas raramente visitada. É um dia mágico, especialmente para as crianças, um dia que, por uma graça divina, caiu bem no meio das férias.
E não há lugar no mundo onde as férias sejam mais extensas e inesquecíveis do que em Brilhossol.

E se esta cidade é tão maravilhosa assim, porque não vão todos para lá, como seria natural de se pensar? Porque ela não se transformou numa metrópole para onde toda criança e adulto querem se mudar? Uma cidade onde as férias são quase intermináveis e completamente inesquecíveis não deveria estar cheia de gente?

Acontece que o acesso a ela é bastante difícil. Ela está no fim de todos os caminhos, na conjunção de todas as cores e de todas as luzes; ela é, diz toda a gente, a pérola perdida de todos os povos do mundo, o pote de ouro no fim do arco-íris. E como não é todo dia que se forma um arco-íris para se seguir, as pessoas acabam não podendo visitar a cidade. Quando acontece dele se formar, a pessoa não pode naquele dia, noutro dia ela pode, espera e nada de arco-íris. E há de se considerar que é comum que se passem meses e até anos sem que se veja no céu um só arco-íris. Desta forma, a atividade turística na cidade é certamente nula e os habitantes de Brilhossol chegam mesmo a se assustarem quando aparece algum forasteiro. Quando isso se dá, a cidade toda se transforma e ocorre uma verdadeira revolução no seu funcionamento normalmente pacato e tradicional. A gente toda modifica seu comportamento, tão grande é a repercussão da chegada do estrangeiro. Este, impressionado com aquele tesouro perdido, nem consegue acreditar no que lhe aconteceu. E de volta à sua terra, acaba convencendo-se de que tudo não passou de um sonho maravilhoso ou então pertence a um passado longínquo, situado lá na sua mais tenra infância, que só poderia existir através de lembranças. Quase todos os pouquíssimos estrangeiros que conseguiram encontrar essa maravilhosa cidade sofriam dessa espécie de amnésia. Mas havia aqueles que, fascinados pela cidade, decidiam ficar e abandonavam tudo para poderem continuar vivendo no brilho e na perfeição perenes de Brilhossol.

Mas como íamos dizendo, hoje é dia de festa em Brilhossol. Felizmente não há nenhum forasteiro de passagem, pois com a festa já se tem agitação suficiente para esta pacatíssima cidade, onde tudo costuma estar em seu devido lugar. As festas em Brilhossol são uma tradição de tanto tempo que não se sabe nem desde quando. Da fundação da cidade tem-se notícia apenas através de um livro muito grosso e antigo, que não traz data, mas no qual há uma descrição do local que, com poucas modificaçöes, continua correspondendo à Brilhossol atual.

Mas antes de ver esta festa tão bonita, vamos falar um pouco mais da cidade, da gente da cidade, da vida da gente da cidade de Brilhossol.



domingo, novembro 19, 2006

MASCULINO E FEMININO


O que o homem vê
se desenha com a força do querer.
Já a visão da mulher
segue rastros impalpáveis:
rios de vida que fluem
silêncios subterrâneos
de tudo o que é
e que ainda vai ser,
refluindo e refiando
o que já foi.


Vai o homem
carregando com esforço
todo o mundo às suas costas.
Fica a mulher
tecendo e cortando
cabos, laços e nós
inexistentes,
que sustentam
o mesmo mundo,
flutuante.

quinta-feira, novembro 02, 2006

A SEDE DOS TEUS OLHOS



Desejos dormentes,
sementes no deserto.
Nem um gota de chuva
vem lamber a areiar fina
que soterra o teu corpo



Um quarto selado
impede a visão
dos horizontes longínquos

que teus olhos querem ver

Quero ser a janela,
descortinar a praia:
onde a vista bebe
o infinito do céu,
onde a água salgada
ressucita teu corpo,
onde o sol radiante
faz desaparecer
a poeira dos juízos.



Eu queria poder
agarrar tua mão
pra cruzar o umbral
que faz precipitar
toda iluminação
e o doce manancial
com cheiro e sabor a mar
capaz de despertar
sementes no deserto!



(Foto do deserto de Atacama, no Chile, o deserto mais seco do mundo, onde a cada 10 ou 15 anos chove em alguma pequena área e sementes - que estiveram, as vezes durante séculos, dormindo enterradas entre as pedras - germinam, formando tapetes de flores.)

sábado, outubro 28, 2006

SINTONIA

Ondas médias, curtas e longas
dão em ritmos do coração
Não me peça decodificação do amor
nem fraternal, nem sexual.

Fios invisíveis me ligam a você
Calor e comunicação

Essa linguagem não tem código,
está livre deste ódio
que é a convenção social
É só a alegria inocente,
o perfume de viver,
a beleza simples de uma cor
que evita toda explicação

sem como quando nem por que.

sábado, setembro 23, 2006

Cativa-me!!!

Disse a raposa ao pequeno príncipe:
Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E
depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.



Fragmento de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

terça-feira, julho 18, 2006

Frases de Mario Quintana


Carreto
Amar é mudar a alma de casa













Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
Enfim,
Tem de ser bem devagarinho,

Que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


sexta-feira, julho 07, 2006

Uma oração


Ó Pai Celestial, enche meu coração de luz! Que possa ser toda ternura e luz! Que eu possa esquecer toda mágoa e sinta o amor pulsando em meu coração como sopro bom, como sopro de luz! Que eu possa ser quase sempre um sorriso de luz para os que amo. Que possa derramar ternura e fidelidade, união e sensibilidade sobre aqueles que me amam.
Que eu seja imune às negatividades, que não deseje o mal a ninguém, que passe incólume pela tempestade em escuridão que envolve, por vezes, seres e ambientes. Que a luz que emana de Ti, Pai, dos anjos e dos santos protetores possa servir de escudo a me proteger e a me fazer forte para alimentar todo o amor por mim mesma e pelos outros. Que esse amor me faça plena de autoconfiança e amor próprio para estar apta a praticar um dos Teus ensinamentos: "amar ao próximo como a si mesmo".
Que eu não espere nada dos outros e aprenda o puro prazer de dar amor, sem a angústia de possíveis retribuições ou rejeições. Que eu nunca me sinta rejeitada ou abandonada, pela certeza de ter a mim mesma e de ter o amor divino como semente dentro de mim. E que, assim, na confiança desse amor divino, que é também amor próprio e infinito, possa eu me deixar levar pela vida a fora, como quem goza mais do navegar que do aportar. Que eu possa me entreter com o cheiro do mar durante a travessia!
Ó Pai Celestial, livra-me de todo medo. Que a tua frase seja sempre presente: "O Senhor é meu pastor; nada me faltará". Guia-me pelos caminhos do meu destino, orienta meus gestos, põe as palavras destinadas na minha boca, comanda as minhas ações. Que aquilo que me cabe decidir, pelo livre arbítrio, encontre sempre um caminho de justiça trilhado na paz e no amor. Que eu viva como uma árvore que cresce, ame como o amor ama, tão livre e naturalmente como quem apenas caminha ou respira. Que me abandone em confiança pela vida, como criança em colo seguro. Que eu nunca perca a alegria e o entusiasmo das crianças pelas pequenas coisas da vida!!

domingo, maio 21, 2006

tempo transformador

Hoje, porque as emoções apagaram a voz dos versos próprios, peço ajuda aos versos de outro para dizer o que sinto. Que sorte ter ao alcance da mão os escritos pelo poeta Mario Quintana!

COMECEI O DIA COMO NA
Canção dos romances perdidos
"Oh! o silêncio das salas de espera
Onde esses pobres guarda-chuvas lentamente escorrem...

O silêncio das salas de espera
E aquela última estrela...

Aquela última estrela
Que bale, bale, bale,
Perdida na enchente da luz...

Aquela última estrela
E, na parede, esses quadrados lívidos,
De onde fugiram os retratos...

De onde fugiram todos os retratos...

E esta minha ternura,
Meu Deus,
Oh! toda esta minha ternura inútil, desaproveitada!..."

SENTINDO TODO O TRISTE PESO DE
O pior
"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."

MAS COMO O PESO PRENDE NO CHÃO E EU GOSTO MESMO É DE SER LEVE, PENSEI NO
Poeminha do contra
"Todos os que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!"


JOGUEI FORA A TRISTEZA PRA VOAR NAS ASAS DE
Das utopias
"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!"

E TERMINEI O DIA TÃO LIVRE COMO NA
Canção do dia de sempre
"Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...

Viver tão-só de momentos
Como essas nuvens do céu...

É só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca des um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..."

sexta-feira, maio 19, 2006

QUIXOTISMOS

Caiar o bem
para que não penetre o mal.
Encher de luz
para que não invadam sombras.
Abrir o coração
para que não abrigue ódios.
Ventilar a alma
para que não sufoque o medo.
Erguer ao ideal um altar
para que não esmoreça o viver.

sexta-feira, abril 14, 2006

O ENTUSIASMO

O amor é a mais autêntica expressão do idealismo. Pode ser o amor por alguém ou por alguma idéia, por uma atividade etc. Não importa. Se for amor, poderemos reconhecer o entusiasmo que professa aquele que ama. O amor fabrica os sonhos, as fantasias que imaginam um universo sem obstáculos para o amar ou que criam do nada, da impossibilidade, a possibilidade e os meios de superação desses mesmos obstáculos. Aquele que sonha, movido pela paixão, tem invencível saúde, sente-se autor da sua própria história e é capaz de impensáveis ousadias. No universo do amor não há fracos, nem tímidos, nem seres derrotados. Não é possível amar todo o tempo, porque o amor sofre constantes derrotas. Mas a cada pequena vitória aquele que ama renasce revigorado. Os apaixonados são sempre joviais e alegres, como quem acabasse de descobrir o mundo. Bom, tudo isso, é pra dizer que eu já tentei ser mais pé-no-chão, menos sonhadora, mais prática, menos apaixonada por tudo e por todos. Porque as derrotas da paixão fazem cair mais fundo quanto mais alta a fantasia de amor. Mas vi a vida definhar, minha energia escoar, o medo me dominar. Em pouco tempo envelheci muitos e muitos anos. Morte: esse deveria ser o nome do pensamento prático, da manutenção do status quo, do medo que paralisa, da ação pelas conveniências e pelas aparências. E aí, então, preferi ser Don Quixote, tentando livrar o mundo de um ou outro moinho de vento, tentando plantar aqui e ali alguma semente do bem, espalhando fantasias - sementes de transformação -, amando à exaustão, caindo e levantando, morrendo e nascendo a cada movimento da paixão.





Pensamento de Heráclito: "É difícil lutar contra o nosso coração, porque tudo o que ele quer, ele compra com a nossa alma."

sexta-feira, março 31, 2006

O BEIJO DA MORTE

Falta um sopro qualquer
em minha alma

Sobre cada centelha
de consciência
de minha própria existência
debruça-se
com suas grandes asas
iiiiiiicobrir-me de sombra
iiiiiiiroubar-me o hálito
a morte.

E quando me vejo
iiiiiiiiié só a metade
E quando respiro
iiiiiiiiifalta-me o ar
que devolver ao mundo,
falta-me o mundo de que tirar ar
iiiiiiiique não tenho tua boca que me sopre vida
iiiiiiiique não tenho boca onde soprar.

quinta-feira, março 30, 2006

ETERNIDADE



iiiiiiii iiiiiiiiiA força dos clichês
iiiiiiiiiiiiiiiiiipor tantos:
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii sexos, sexualidade
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii etnias, nacionalidade
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilocus, comunidade
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii eras, idade
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiintensidade acumulada
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiio tempo circunda o tempo
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicelebra o nada
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitodas as lágrimas e rosas
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiem eu te amo
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii iiiii (presa do encanto das fadas)

quarta-feira, março 15, 2006

Provérbio na mente e cordel no coração

Provérbio chinês:
"Há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra dada e a oportunidade perdida."

Pequeno cordel:
Na minha vida tristonha,
fiz grande revolução
pra deixar de ter tristeza
e viver de coração.
Ser alegre, ser risonha,
que era minha natureza.
Ser amada e amar.
Mais amor, menos riqueza,
e a vida festejar
com todo esplendor e beleza.

Broto de amor apontando
e o deserto verdejando.

Mas num desses bailes que a vida dá,
em meio à alegria de festa,
oooolha a tristeza de novo lá.

Deserto que se manifesta
pra mostrar e me ensinar
a só quem me ame eu amar.

Antes da areia tudo cobrir
Em disparada logo eu fugi.

Mas na fuga do castelo,
ao invés de sapatinho,
eu perdi meu coração!
Passaram no broto o rastelo
e no peito, deserto, vazio
ecoa esta triste questão:
esse dono do castelo,
vai fazer devolução?
Se assim não for não,
que o guarde num cantinho,
- ô, meu pobre coração! -,
que não jogue o coitadinho
na lixeira da emoção!

sábado, fevereiro 18, 2006

AVATAR

Um ar rarefeito
Corpo de pedra e madeira
Um coração em meu peito
Tempo sem eira nem beira

Vou pela porta que abre
Uma lufada, um vão
Todo o meu mundo se esvai:
Signos, teorias
Douta argumentação
Só teu sorriso é que brilha
Só teu olhar é que vai
Desdizer as terapias
Instaurar a alegria
De inocência e de paz.

Tanto ar pra respirar
Corpo que dança ao caminhar
Já nem sei ter coração
O tempo me ampara, é meu chão

E se c'um pretexto qualquer
Vem teu sorriso mais perto
Gira em volta, gira esperto
Um cintilar invisível
Que me faz
Feliz.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O MEDO À LIBERDADE



Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.

Nosso medo mais profundo é o de sermos poderosos além da medida.

É nossa luz, não nossa escuridão, que mais assusta.

Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso, fabuloso?

Na verdade, quem é você para não ser?

Você é uma criança do Espírito.

Você, pretendendo ser pequeno, não serve ao mundo.

Não tem nada de iluminado no ato de se encolher, pois os outros se sentirão inseguros ao seu redor.

Nascemos para manifestar a glória do Espírito que está dentro de nós.

E à medida que deixamos nossa luz brilhar, damos permissão para os outros fazerem o mesmo.

À medida que libertamos nosso medo, nossa presença libera outros.

Nelson Mandela

terça-feira, janeiro 24, 2006

para além de tempo e lugar: amar


Não importa. Nada importa. Nem o tempo que se consome em mil e dois obstáculos ao redor, nem todas as prisões subjetivas em que nos mantenham, nem todas as ameaças (veladas ou declaradas), nem o maior dos medos frente ao mais transparente dos perigos.

Todos os nãos se diluem e carecem de qualquer poder face a um único olhar amoroso e diante da certeza sem tempo de um coração apaixonado.

(Uma homenagem ao romance Del amor y otros demonios,
de Gabriel García Márquez)

sábado, janeiro 14, 2006

QUERER É PODER


Aplauso
Em minha experiência docente pude constatar algo que me serviu para observar e entender melhor as pessoas à minha volta: há alunos que se têm em alta conta (pensam saber muito) e quase sempre se decepcionam com o resultado de suas avaliações; há outros alunos que expressam insegurança quanto a si mesmos (acham que não sabem nada) e se exigem notas mais altas do que as que tiram ou se surpreendem quando as alcançam. São poucos os alunos que têm uma boa noção do seu real conhecimento.
Assim, também na vida, tenho visto pessoas que em tudo “se acham” e apresentam, no entanto, uma performance normal, mediocre ou ruim, que muitas vezes causa-lhes decepção ou revolta. Acham-se injustiçados, rejeitados e até perseguidos. Por outro lado, há pessoas, por vezes maravilhosas, que nutrem certo desprezo por si memas e que por isso sequer se expõem a qualquer performance que não seja imposta (como no caso de provas). Ficam adiando a vida ou se escondendo dela.
Vivemos num mundo de espelhos. E isso é quase cruel. Se aqueles que nos rodeiam nos devolvem uma imagem vitoriosa de nós mesmos, se recebemos deles estímulo, aceitação, então, acreditamos que podemos. Há os que, muito mimados, acham que podem para além dos limites da realidade e exigem, como crianças, tudo para si, sem merecimento ou esforço. Se à nossa volta, ao contrário, contamos com pessoas que reprovam o que fazemos ou desejamos fazer, se em tudo nos diminuem ou desrespeitam, então, terminamos por desenhar de nós mesmos uma figura apagada, sem brilho, sem força, que nunca estará à altura das expectativas internas e alheias.
E daí a conclusão: para ter mais auto-estima, para ter uma noção mais precisa do valor que realmente temos, para acreditar em nós mesmos e no nosso potencial de crescimento, todo o segredo está em viver cercado das pessoas certas, ou ao menos, no caso de se ter pessoas das quais não seja possível se livrar, o segredo está em revidar, fazer-se valer, fazer-se respeitar. Nunca pude acreditar em capacidades diferentes, em gente mais capaz ou menos capaz, em gente mais inteligente ou menos inteligente. Tudo o que vejo é gente mais confiante ou menos confiante, mais amada ou menos amada. Há, claro, os talentos pessoais, as inclinações, os dons que vêm sem muito esforço. Mas acredito, de todo o meu coração, que todo aquele que se empenha pode, que todo aquele que diz “eu posso o que eu quero”, esse tem o universo na palma da mão!
Califórnia (do fotógrafo Elliott Erwitt, 1953)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

PARA SER FELIZ



Mais uma do nosso maravilhoso Mário Quintana!


"Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!"

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Na raíz de mim mesma




Remexando em velhos papéis encontrei um tesouro: coisinhas que escrevi quando ainda era menina. As árvores só amplificam o potencial das sementes. A vida complica o que a sensibilidade infantil explica de forma singela. Tomara que eu consiga manter sempre uma essência de semente!!


A SEREIAZINHA (escrito aos 10 anos de idade)

A sereia tão linda,
passeava pelo mar
cantava para os peixes
observando o seu futuro lar
O sonho na raíz
Um lar tão convincente
fazia-lhe sonhar
com um príncipe tão belo
tão lindo como a beleza do mar
Vivia sonhando
vivia para sonhar
queria ser humana
e assim se casar.
Os frutos
na realidade


SOL, LUZ, VIDA (escrito aos 13 anos de idade)

O sol, a luz, a vida

O sol é a luz da vida
A vida começa com a luz,
no entanto, nem sempre
a luz ilumina a vida.

Cada passo que se dá
é a esperança de uma vida
mas às vezes não há
uma chama para iluminar
a esperança dela ser vivida.

O sol

O coração ilumina o amor
O amor dá luz à vida
mas mesmo quando não há luz,
não pode haver temor
no coração daquele que ama
e que sonha com um lindo e impossível amor.


O sol ama
ama a todos a quem ilumina
só não ama aqueles
que não amam a vida

A luz

As trevas iluminam as tristezas
A luz do sol e da vida
querem iluminar
as alegrias e felicidades da vida

Só espero que um dia o
sol possa iluminar
todos os momentos e felicidades
de cada movimento e olhar
de todos aqueles
que deixam seu coração amar.
A vida