quinta-feira, novembro 02, 2006

A SEDE DOS TEUS OLHOS



Desejos dormentes,
sementes no deserto.
Nem um gota de chuva
vem lamber a areiar fina
que soterra o teu corpo



Um quarto selado
impede a visão
dos horizontes longínquos

que teus olhos querem ver

Quero ser a janela,
descortinar a praia:
onde a vista bebe
o infinito do céu,
onde a água salgada
ressucita teu corpo,
onde o sol radiante
faz desaparecer
a poeira dos juízos.



Eu queria poder
agarrar tua mão
pra cruzar o umbral
que faz precipitar
toda iluminação
e o doce manancial
com cheiro e sabor a mar
capaz de despertar
sementes no deserto!



(Foto do deserto de Atacama, no Chile, o deserto mais seco do mundo, onde a cada 10 ou 15 anos chove em alguma pequena área e sementes - que estiveram, as vezes durante séculos, dormindo enterradas entre as pedras - germinam, formando tapetes de flores.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Cristine,

"Deserto florido", incrível como a vida é forte!
As correntes marítimas do pacífico não conseguem passar para o deserto por causa da sua altitude, de fato quase não há chuva... o que não impede o deserto de florescer e a semente de germinar, é um fenômeno muito raro.
Acho que raro na vida tb... Tendemos a nos preocupar tanto por estarmos num "deserto", que esquecemos de procurar um oásis.=D
É sempre preciso mais do que um solo fértil, a semente deve exalar vida tb.. Como as sementes que conseguem florescer no Atacama.

Parabéns pelo poema.
Suas palavras florescem em meio a qualquer deserto!

Grata mais uma vez,
Aline Matos.

Cristine Fickelscherer de Mattos disse...

É isso aí Aline, querida,

sempre sempre, como se vê tão evidentemente nesse caso, podemos comprovar que a vida é um milagre!
Às vezes acho que quanto maior a beleza de algo por nascer, maior o tempo necessário para que aconteça.

Obrigada por ler, obrigada pelos comentários tão generosos!

Um beijo,
Cristine