quarta-feira, maio 28, 2008

Porvir

E ela subiu no seu amor. Como quem escala uma grande montanha ou sobe tremenda escadaria, pagando a si mesma a promessa do divino, reverenciando os próprios sonhos a espargirem de si a poeira estelar, fabricando a luz, recriando o universo. E no cume, ela, com seus dedos de pianista, foi arrancando as ervas do caminho, os matinhos ressecados - frutos de outros tempos - limpando, arando, preparando o solo para nova plantação. Mesma terra, mesmo arado, mesma mão; novas sementes, nova luz e novas chuvas. Deslizam-lhe dos dedos gotas de bem-querer, de carinho, sedução e desejo. É parte da sua alma que lhe escorre das mãos. E se passam os dias do plantio, tantos no seu coração, com a pressa ansiosa e a vagarosidade saboreada de quem ama, na certeza do seu amor que ara e na sua dúvida de semente que apenas imagina. Terminado o trabalho, todas as potencialidades sobre seus calcanhares puseram-se a esperar, a velar a germinação. E num canto qualquer do universo, lá ela se encontra todos os dias, sentada com o seu olhar castanho, gestando.


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