domingo, dezembro 04, 2005

REFLEXO E REFLEXÕES


Às vezes achamos que para ter amigos, para ter um amor, ou seja, para gostar dos outros é preciso encontrar pessoas como nós mesmos, com os mesmos interesses, gostos, atividades, experiências semelhantes. Grande falácia: isso não é gostar dos outros, isso é gostar de si mesmo através dos outros. Porque quando não temos a certeza de gostar de nós mesmos – e isso acontece freqüentemente, devido a muitas e muitas das nossas inseguranças e dos medos – usamos os outros para gostar de nós. É uma maneira de se isolar do mundo – que tem uma diversidade de seres tão fascinante – e ficar vendo só a si mesmo, só o próprio reflexo.

Mas nada disso é essencial e na verdade, com o tempo, vemos que a falta do nosso amor próprio não pode depender dos outros como de um remédio, sem o qual ficamos como que doentes (esse é o caminho terrível do ciúme!). O essencial, essencial mesmo, é gostar de si mesmo para depois poder gostar do outro assim como ele é, em seu modo de ser tão próprio de si mesmo. Porque se podemos gostar de alguém diferente de nós mesmos, esse alguém pode saber que esse é um gostar do outro, não um “auto-admirar-se”, esse é um Amar. E pensando nisso, lembro do filme "Moça com brinco de pérola", no qual uma sociedade muuuito hierarquizada pode conter pessoas com a mesma sensibilidade, infelizmente situadas a distâncias intransponíveis. Ainda bem que hoje tudo é bem mais igualitário e democrático!

Essencial é gostar do outro em sua humanidade, em sua maneira de existir e de ver e sentir o mundo, em seu modo de irradiar vida, energia, luz, enfim, em seu modo também de amar. Temos de nos ater ao que é próprio do ser e não ao que é dado por tudo que é externo a ele; ater-se, por exemplo, à inteligência (não a posições sociais), ao humor com que se fala (não ao que se fala), ao temperamento etc. Porque se encontramos pessoas que sentem e amam como nós, seja lá o que façam ou de onde venham, sabemos que é no amor que as encontramos, lá no meio do caminho entre o dar e o receber, lá onde as palavras não dizem muito, mas o coração sente na mesma sintonia.

E aí me pergunto: por que há tanto preconceito, por que tão pouca compaixão? Por que as pessoas se isolam mais e mais nos seus minúsculos círculos sociais (cheios de gente igualzinha)? Por que inventam meios de manter a antiga hierarquização, a despeito de toda democracia? É porque vivemos numa sociedade cada vez mais narcisista em que se ama tão pouco os outros e se vive quase sempre para engrandecer a si mesmo (sucesso profissional, status social, beleza física!!), numa espécie de sutil competição que faz dos outros todos não alguém para se amar, mas inimigos para se vencer ou ameaças das quais se resguardar!

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Cris!!!

Que texto lindo!!!Sensível por demais!!!Concordo contigo; a maioria das pessoas perderam a capacidade de conviver com a heterogeineidade, em aceitar o outro em sua essencial e não pela sua aparência..isso é ser cruel consigo mesmo!!!Ainda bem que mesmo virtualmente encontrei um ser tão bonito que é você.
Continue nos presenteando com texto tão belos...tão humanos!!!
Um abraço!!!
Sua fã
Amanda

Anônimo disse...

Oi Cris!!!

Que texto lindo!!!Sensível por demais!!!Concordo contigo; a maioria das pessoas perderam a capacidade de conviver com a heterogeineidade, em aceitar o outro em sua essencial e não pela sua aparência..isso é ser cruel consigo mesmo!!!Ainda bem que mesmo virtualmente encontrei um ser tão bonito que é você.
Continue nos presenteando com texto tão belos...tão humanos!!!
Um abraço!!!
Sua fã
Amanda

Anônimo disse...

Olá Cris
Demorei mas apareci. Que lindo o seu texto! Nós que somos profs precisamos aprender cada vez mais a conviver com essas diferenças. Quantas vezes não me peguei mais atenta a um aluno com o qual eu me identificava facilmente? Mea culpa.
Um beijo enorme pra vc, parabéns pelo Blog.
Gisele Paulucci

Anônimo disse...

Este blog está lindo, na forma e no conteúdo! Já estou divulgando... beijo!